29 março 2006

Arte Italiana em BH: mas ninguém vai? Por que?

Belo Horizonte esta semana está sendo presenteada com uma Exposição de Arte com telas e artefatos de cerâmica da época do Renascimento, sendo todas as peças de origem Italiana.

Levei minhas filhas para conhecer um pouco da expressão artística renascentista que deixou marcas profundas na história da humanidade. O passeio pela galeria foi marcado por suspiros e desconfiança. Ver um pote de cerâmica da família dos Médici gerou em mim uma inquietação, pois, lembrei imediatamente do tão conhecido livro de Maquiavel - aquele que o Fernando Henrique disse que leria novamente - dedicado a esta família, a qual possuía potes de cerâmica, como uma família qualquer que conhecemos. Porém, ao comparar o pote de cerâmica dos Médici com o pote de um sapateiro da época, pude perceber o poder que a arte tem de denunciar as divisões sociais.

As telas impressionam pela riqueza de detalhes e pelo simbolismo sagrado, e principalmente, por estarem aqui em Belo Horizonte. O silêncio somado a observação produzia um desejo, quase que visceral, de tocar nas obras. A segurança era intensa, ninguém ousaria tal feito.

Saímos da exposição extasiados. Sim, viajamos no tempo e percebemos como a Arte é de fato um portal para o conhecimento. Ver aquelas peças foi como humanizar um mito, tocar no intangível e dar sabor ao insípido.

Saímos da Galeria e fomos almoçar em um restaurante fast-food em um Shopping perto dali. Para chegar a esse restaurante passamos por dentro de uma sala de Jogos eletrônicos. A sala estava repleta de jovens, todos com armas em punho, ou então pilotando seus Caças virtuais. O frenesi para abater o inimigo virtual parecia estar sendo gerado por uma hipnose coletiva que, naquele momento, controlava os instintos dos ávidos jogadores. Ao sairmos daquela sala fomos interceptados por um batalhão de consumidores que andavam frenéticamente atrás da oferta de felicidade que enfeitava as vitrines.

Senti uma tristeza e uma agonia que me levou a escrever essa crônica, que vem como forma de denuncia, porem, não será nada novo para aqueles que amam a liberdade, amam a vida e principalmente que amam a espontaneidade.

Não quero fazer apologia à erudição em detrimento do lazer que é oferecido hoje para a classe média Brasileira. Quero apenas questionar esse desinteresse pelo conhecimento universal.

Primeiramente, fiquei surpreso com o valor da entrada para a amostra de Arte. Cinco reais; esse era o valor que um adulto pagaria para fruir conhecimento e sentimento das obras expostas. Imaginei que encontraria muitas pessoas ali, o que de fato não aconteceu. A sala estava vazia! Por um lado eu ate gostei, pois ir a uma amostra de Arte onde o público é escasso é uma benção divina para quem quer se deliciar com as obras.

Questionei qual seria a razão daquela Galeria não estar repleta de pessoas. Coloquei a culpa inicialmente na divulgação. Mas não foi plausível. Logo em seguida culpei a burguesia dominante, mas não consegui sustentar essa tese ao me lembrar do preço do ingresso e de que a Exposição era patrocinada por uma das maiores empresas de produção de Automóveis do País. Cheguei então a uma conclusão, faltava interesse das pessoas. Mas como ter interesse por algo que não faz parte do nosso cotidiano?

A idéia atual de lazer, nas metrópoles, está refém do consumismo. Fica claro isso ao vermos famílias inteiras indo se “divertir” nos Shoppings. Muitas famílias que estavam ali naquela Arena moderna (ou hiper-moderna?) até sabiam da Exposição de Arte, mas entenderam que não podiam perder tempo com essas “bobagens de intelectuais”. Esse pensamento tem sido prejudicial para a formação de uma cultura universal, pois a arte mundial tem sido colocada como algo somente para os intelectuais, e a Arte local tem sido desprezada, chamada de passatempo, e geralmente lembrada como fruto das festas folclóricas ou religiosas.

Percebo que nosso povo vem sendo mutilado culturalmente pela voracidade consumista e pelo descaso histórico com a transmissão e valorização do conhecimento artístico. O alvo dos últimos governos, inclusive do atual, era acabar com a fome no País, entretanto, seria bom também lembrá-los que o Brasileiro tem uma alma, que também precisa ser alimentada.

O fato de sermos uma colônia consumista das iguarias do capitalismo faz com que os esforços educacionais do País se pareçam com projetos de ONGs para socorrer refugiados de guerra.

Mas pensando bem, a imagem dos jovens nos jogos eletrônicos, parecia como um treinamento militar. Será que estamos em guerra? Sim, estamos em guerra, e parece que o Hedonismo avança a cada dia, fazendo com que o conhecimento fique entrincheirado nos corredores das Universidades, sem que cumpra o seu papel mais sublime, a saber, fazer com que o homem conheça a si mesmo.

Ao deixarmos a Galeria de Arte minha filha de sete anos disse, “Pai, tô sentindo uma alegria e tô com vontade de chorar!”. Ao sairmos do shopping eu pensei, “Filha, agora sou eu que estou com vontade de chorar”.

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