18 junho 2010

Formação Teológica

shaman

Pessoal, segue abaixo um texto que produzi para uma prova de admissão em um curso de convalidação pelo MEC do meu curso de Teologia. Eu gostei do que escrevi..kkkk….compartilho entã o….abrax

gerson

 

Em tempos quando o evangelho no Brasil vem sendo “vendido” nos canais de comunicação como uma poção mágica para solução de problemas e desembaraços jurídicos e amorosos, discorrer sobre a formação teológica dos pregadores torna-se um exercício necessário e instigante. Entender a necessidade de uma formação teológica sólida e ortodoxa é fator essencial na vida de um pregador atual. Desde o advento da popularização do “evangelho midiático” na década de 1960, a Igreja vem vivendo sob a influência das mais diversas esquisitices teológicas possíveis.
Partindo dessa realidade pode-se apontar quatro fatores importantes para a formação teológica dos atuais pregadores. São eles: 1. Conhecimento histórico, 2. Capacidade de interpretação textual, 3. Capacidade de comunicação das verdades bíblicas e 4. Aplicação dos valores bíblicos no contexto atual dessa sociedade. A formação teológica eficaz levará um pregador a ser não somente um repetidor de jargões do meio eclesiástico, mas formará um agente de comunicação eficaz e relevante da mensagem transformadora do evangelho.
O conhecimento histórico é de suma importância na formação teológica. Um pregador que não conhece a história de sua fé é presa fácil para os ventos de doutrinas que sempre assolam as história da Igreja. Desde o Marcionismo ao Montanismo, ambas doutrinas do século 2, que a Igreja luta com esses ventos de doutrinas, as quais geralmente são denunciadas quando comparadas com a história da fé cristã ortodoxa. Nesse aspecto a formação teológica fará com que o pregador seja exposto ao tempo longo e as permanências da fé cristã. Isso possibilitará uma reflexão que pode ser usada como balizador de sua pregação. Conhecer a história da sua fé é em última análise entender que não há nada de tão novo e também nada que surpreenda a santidade de Deus.
A interpretação do texto canônico é de extrema importância para alguém que queira viver de forma piedosa na pregação do evangelho. A verdade eterna de Deus está ali posta diante de nossos olhos. Por vezes, essa verdade é encoberta pela pouco conhecimento do vernáculo materno das escrituras. Nesse aspecto a formação teológica pode apresentar ao pregador ferramentas textuais e de analise contextuais que o ajudarão a extrair o sentido e o objetivo do texto estudado. Essas ferramentas em nada suplantam mover poderoso do Espírito de Deus que opera tudo em todos e usa a mesma mensagem pregada para falar de forma diferente com quem ele mesmo escolhe para se revelar. Contudo, essas ferramentas usadas com honestidade e temor são de grande valia para a expressão das verdades bíblicas que de fato glorificam Jesus.
Comunicar de forma efetiva e relevante essas verdades bíblicas torna-se um desafio ao pregador atual. Nesse aspecto uma boa formação teológica pode instrumentalizar o pregador de forma que entenda sua audiência e conheça as chaves culturais que melhor comunicam com seu público, com sua comunidade. Ser relevante na comunicação é tão importante quanto ter conhecimento de uma verdade bíblica. Jesus de forma simples e eficaz usou as metáforas da agricultura para comunicar-se com aqueles que estavam ao seu redor. Paulo, o apóstolo, também usou dessas ferramentas ao se dirigir a gregos, a judeus e a autoridades de sua época. Comunicar não se restringe apenas na oralidade. Uma boa formação teológica irá preparar pregadores para usar a língua escrita corrente de sua comunidade em prol do evangelho. Da mesma forma, não se pode deixar de mencionar sobre o poder das artes no processo de comunicação. Um bom pregador do evangelho usará de tudo isso com critério para que aqueles que irão crer sejam alcançados pela maravilhosa graça de Cristo.
Por fim, uma boa formação teológica levará um pregador a ensinar seus ouvintes como podem praticar o que está sendo pregado. Para tal, o pregador precisa conhecer com critério formas de chegar ao coração de seus ouvintes de maneira que gere credibilidade para uma relação de orientação espiritual e de vida. Muitas vezes somos constrangidos com relatos de manipulação de pregadores que de forma leviana conduzem seus rebanhos para seu bel prazer. Que tristeza! Uma boa formação teológica pode minimizar essa possibilidade, não que ela seja eliminada, mas cria um caminho mais transparente na vida de um pregador.
Portanto, uma boa formação teológica, acompanhada de uma vida devocional piedosa e prestação de contas, são aspectos fundamentais para a formação de pregadores do evangelho, especialmente daqueles que fazem tal obra com dedicação e diligência, não por ganância, mas por convicção de um chamado de Deus.

Gerson Freire – Belo Horizonte, 17 de junho de 2010.

13 junho 2010

O Calvinismo como ideologia na Revolução Inglesa

 

Para uma melhor compreensão sobre como ocorreu o fenômeno do Calvinismo que se espalhou por toda Europa tornando-se responsável por grandes mudanças nos campos políticos, sociais, religioso e econômico, faz-se necessário entendermos alguns conceitos. Para isso, buscaremos fundamentar nossa análise bibliográfica em autores como Christopher Hill, Trevor-Roper, Max Weber e Jobson Arruda, entre outros que estão voltados para o tema.

O Calvinismo é entendido tanto como um movimento religioso protestante quanto uma ideologia sociocultural com raízes na primeira reforma protestante na Alemanha, iniciado pelo monge Agostiniano Lutero, em 1517, e depois fundamentada por Calvino que difundia suas idéias pela França, Suiça e Holanda no século XVI. A Inglaterra começou a sentir os efeitos desse movimento, ou seja, dessa transformação que segundo Trevor-Roper foi fundamental para quase tudo que se passou no mundo desde então. Nesse sentido, o historiador inglês Trevor-Roper destaca que a Europa virou "de cabeça para baixo" em termos políticos, econômicos e intelectuais diante do processo da Revolução Inglesa. Para uma melhor compreensão desse processo explicaremos alguns conceitos que estamos utilizando, da mesma forma que achamos muito válido para esse artigo. Decidimos trabalhar com conceito de revolução entendido por Jobson Arruda, onde destaca que:

(...) existe uma revolução desde que as mudanças se operem no interior do sistema de maneira acelerada, tanto ao nível estrutural, quanto ao conjuntural, seja no aspecto econômico, social, seja político. Haverá, pois, uma revolução mesmo que as mudanças aceleradas ocorram em apenas um dos setores considerados, porque a articulação necessária entre eles acaba transferido as mudanças para todo o conjunto.

Nesse sentido, podemos dizer que a Revolução Inglesa foi um processo de cunho político-teológico. Inicialmente foi denominada de Revolução Puritana que teve como principal eixo o confronto entre a Monarquia e o Parlamento agravado pelas divergências religiosas, culminando assim, no conflito armado e início da guerra civil (1642-1649) e logo a seguir na Revolução Gloriosa. O movimento da Revolução Gloriosa se destacou por ter destituído do trono o rei católico Jaime II da Inglaterra da dinastia Stuart e substituído pelo nobre holandês Guilherme, Príncipe de Orange em conjunto com sua mulher Maria II, filha de Jaime II sem que ocorresse derramamento de sangue.

Decidimos usar a nomenclatura no singular visto que apesar de separadas por cortes temáticos ambas fazem parte de um processo revolucionário que foi sendo desenvolvido na Inglaterra do século XVII com uma resultante das contradições e resignificações de um Estado Absolutista que experimentava a mentalidade da modernidade. (Arruda, 1984, p.121)

Inicialmente, gostaríamos de destacar que o protestantismo exercia um grande poder ideológico na sociedade inglesa dos séculos XVI e XVII. Desde a separação política da Inglaterra de Roma emblematicamente conhecida com o rompimento de Henrique VIII com o papa, a Inglaterra tornar-se-ia palco de disputas políticas e religiosas ainda não conhecidas na história da cristandade. Ao romper com Roma, Henrique VIII estaria de forma direta dando suporte ao movimento que havia surgido na Alemanha pelo monge Agostiniano Lutero, em 1517, e agora sendo reescrito por Calvino que difundia suas idéias pela França, Suiça e Holanda. A Igreja que surgia com Henrique VIII abraçaria os ideais calvinistas, preservando a liturgia católica.

A tradução da bíblia para o inglês foi outro fator de destaque como fomentador desse novo momento político-religioso na Inglaterra tanto entre os monarcas como até em discussões cotidianas dos camponeses ingleses (HILL, 2003, p.24).

Essa equação sócio-religiosa foi a base para o surgimento do anglicanismo, o qual encontrou no calvinismo o balizador da interpretação bíblica. A estrutura econômica da Inglaterra nesse momento foi também um fator que acelerou e viabilizou a Revolução. Christopher Hill (1984) em seu artigo para a Revista Brasileira de História aponta que:

(...) este resultado bem como a própria revolução tenham se tornado possíveis porque já tinha havido um desenvolvimento considerável das relações capitalistas da Inglaterra.

Contudo, esse momento sócio-econômico e esse clima constante de contradições vividas por frações dos estamentos criaram uma instabilidade política baseada na propriedade de terras. A terra foi o foco das disputas entre nobreza, clero, senhores feudais, e as novas frações sociais – yomers, levelers, diggers, etc - que surgiam em uma Inglaterra que experimentava a modernidade e suas contradições. Esses conflitos foram permeados pela ideologia religiosa que assumia o papel antes pertencente à Igreja Romana: o protestantismo.

Nesse sentido, é interessante destacar a afirmação de HILL (1984) de que o protestantismo foi um movimento que contribuiu para o desenvolvimento capitalista, visto que a relação com o lucro deixava de ser pecaminosa e tornava-se um sinal da benção de Deus sobre o pequeno ou grande proprietário de terra. Porém, outros fatores políticos, econômicos e culturais que conseqüentemente repercutiram diretamente em processos de transformação acorridos ao longo de toda idade moderna também devem ser considerados.

O sociólogo alemão Max Weber, ressalta que essa mudança se deu por uma razão ética: a moral protestante estava mais predisposta ao espírito capitalista, por infundir no indivíduo mais autonomia intelectual e menos aversão ao lucro. Apesar do historiador Trevor-Roper está de acordo, acrescenta nuances importantes à visão. Para ele, a religião foi um dos fatores, não o único que Igreja Anglicana, fundamentada numa idéia política e não religiosa destacou.

O que é didaticamente conhecida como a Revolução Puritana é, portanto, um movimento burguês, com apoio aristocrático que agora via sua possibilidade de ascensão ao poder. O calvinismo nesse momento dava o suporte ideológico para que os eleitos de Deus se mobilizassem para cuidar da terra que lhes havia sido entregue como promessa divina. Uma reestruturação jurídica faria com que a Revolução Inglesa eclodisse com apoio dessas frações sociais, seja do antigo regime, seja das novas forças sociais que surgiam.

Ao ascender definitivamente ao poder, em 1651, Oliver Cromwel calvinista e agora Lorde Protetor da Inglaterra, estabelece uma república unificando os territórios da Inglaterra, Irlanda e Escócia. Uma de suas ações foi à convocação de uma assembléia de clérigos para reformulação da fé protestante na Inglaterra. Segundo HILL (1984) o controle da igreja, o principal corpo formador de opinião no país era de suma importância, assim como o controle da mídia é nos dias atuais.

Por tudo citado acima, entendemos a Revolução Inglesa como um processo político-teológico que aconteceu no momento em que camponeses, monarcas, aristocratas e clérigos discutiam um novo ordenamento social, mesmo que esse contenha em sua estrutura porções do antigo regime. O calvinismo foi de fato um importante componente no ideário dessa revolução. Desse modo, vimos a Revolução Inglesa como um processo de clivagem sócio-política que mexeu na superestrutura daquela nação colocando assim, essa sociedade em crise.

Por fim, percebemos como politicamente o poder simbólico do discurso teológico foi sendo usado em vários momentos da Revolução, e ao mesmo tempo foi fundamental para o exercício do poder contribuindo para o fortalecimento das práticas capitalistas embrionárias que mais tarde levariam a Inglaterra para uma outra revolução: a Industrial.

REFERÊNCIAS

BIÈLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. São Paulo: Casa

Editora Presbiteriana, 1990.

HILL, Christopher. A Bíblia Inglesa e as revoluções do século XVII. Rio de Janeiro: Civilizações Brasileiras. 2003.

HILL, Christopher. O mundo de ponta cabeça: as idéias radicais durante a revolução inglesa de 1640. São Paulo: Companhia da Letras, 1987. p. 139-140.

HILL, Christopher. A revolução Inglesa de 1640. Lisboa: Presença, 1977. p.85-119.

Hill, Crhistopher. Revista Brasileira. N° 7, São Paulo: Marco Zero – ANDUH, 1984.

WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 4 ed. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1985.