22 junho 2007

O que seria evangelizar?

Este artigo do Boff vem como um desafio a repensar o termo evangelizar. Segue abaixo. Leia e pense!!! Abracos.

Os esquecidos
Leonardo Boff

Aparecida, Brasil - Certamente os bispos latino-americanos em Aparecida, ao abordarem o tema central da missão da Igreja, devem ter-se confrontado com a questão histórica ainda não resolvida sobre a forma como foram tratados os índios e os afrodescendentes. O cristianismo em geral sempre se mostrou sensível ao pobre, mas implacável e etnocêntrico diante da alteridade cultural. O outro (o indígena e o negro) foi considerado o inimigo, o pagão e o infiel. Contra ele se efetuaram "guerras justas" e liam o Requerimento (um documento em latim no qual se deveria reconhecer o rei como soberano e o papa como representante de Deus) e caso não fosse aceito se legitimava a submissão forçada.

Não devemos esquecer jamais que nossa sociedade está assentada sobre grande violência, sobre o colonialismo que invadiu nossas terras e nos obrigou falar e pensar nos moldes do outro, sobre o etnocídio indígena com sua quase exterminação, sobre o escravismo que reduziu milhões de pessoas a "peças", sobre a dependência atual dos centros metropolitanos que dificulta nosso caminho autônomo e inclusive querem prescindir de nós. As desigualdades sociais, as hierarquias discriminatórias e a falta de sentido do bem comum se alimentam ainda hoje deste substrato cultural perverso.

Por isso com espanto ainda recentemente escutamos que a primeira evangelização não foi uma "imposição nem uma alienação" e que seria "um retrocesso e uma involução" querer resgatar as religiões dos ancestrais. Diante disso não podemos deixar de escutar a voz das vítimas que ecoam até hoje, testemunhas do reverso da conquista, como aquela do profeta maia Chilam Balam de Chumayel: "Ai! Entristeçamo-nos porque chegaram…vieram fazer nossas flores murcharem para que somente a sua flor vivesse…vieram castrar o sol". E sua lamúria continua: "Entre nós foi introduzida a tristeza, o cristianismo…Esse foi o princípio de nossa miséria, o princípio de nossa escravidão".

Segundo Oswald Splengler em A Decadência do Ocidente, a invasão ibérica significou o maior genocídio da história humana. A destruição foi de quase 90% da população. Dos 22 milhões de astecas em 1519 quando Hernán Cortés penetrou no México, em 1600 só havia um milhão. E os sobreviventes, segundo teólogo Jon Sobrino, são povos crucificados que pendem da cruz. A missão da Igreja é descê-los da cruz e ressuscitá-los.

Mas a esperança dos indígenas não morreu. Em algumas comunidades andinas dos antigos incas, celebra-se, de tempos em tempos, um ritual de grande significação: um condor é amarrado, a águia dos Andes, no dorso de um touro bravio. Trava-se, diante da multidão, uma luta feroz e dramática, o condor lutará com suas potentes bicadas, extenuando e derrubando o touro. Este então será comido por todos. Trata-se de uma metáfora: o touro é o colonizador espanhol e o condor o inca do altiplano andino. Ocorre uma reversão simbólica: o vencedor de ontem é o vencido de hoje. O sonho de liberdade triunfa, pelo menos, simbolicamente.

A missão da Igreja é de justiça, não de caridade: reforçar o resgate das culturas antigas com sua alma que é a religião. E em seguida estabelecer um diálogo no qual ambos se complementam, se purificam e se evangelizam mutuamente.
Leonardo Boff - Doutor em Teologia pela Universidade de Munique

14 junho 2007

Missiomarketologia - Humm???


Ao longo dos meus anos, tive a oportunidade de conhecer muitos ministérios, dos quais uma grande parte tem uma abordagem “missionária”, ou seja, carregam a bandeira de levar o evangelho a outras nações. São informativos infindáveis com fotos e mais fotos da grande “obra”.
Tenho percebido que existe uma apropriação indébita do termo missões, pois, muitos usam essa palavra pra alavancar seus projetos pessoais. Basta dizer que o alvo é missionário que o vale tudo começa.Decidi não me calar mais em relação a esse engodo “missionário” que na verdade suga os recursos da Igreja e gera um tipo de obreiro Fast-food.(John Dawson, 2001). Esses são obreiros que querem mudar a história de uma nação nos atos proféticos, os quais têm seu lugar no misticismo evangélico, mas não são o marco definidor de uma nação. Obreiros que vivem para escrever e promover seus projetos que em sua grande maioria não tem relevância na vida de uma comunidade. Já me deparei com cada proposta que tenho até vergonha de citá-las. Mas tudo isso tem uma fundamentação: “Missões”!!! Não suporto mais ver pessoas desafiando a igreja para as nações e ao mesmo tempo saber que geralmente essas mesmas pessoas não estão dispostas a serem resposta do seu próprio apelo. Acho isso uma crueldade com a noiva de Cristo, pois, geralmente, essas pessoas exercem influência sobre centenas de milhares de pessoas das quais, apenas algumas foram chamadas para as nações e vão se posicionar, mas outras não foram chamadas, contudo, foram constrangidas pelo apelo, e outros ainda irão se sentir culpados por não terem coragem de responder a esse clamor. Creio que nunca podemos perder o alvo missionário. A Igreja foi chamada pra levar as boas novas de Cristo a todos os povos da terra. Mas isso não deve ser feito pelo “emocionalismo”, mas sim através do preparo sistemático de obreiros que tenham sua vida aprovada na comunidade local, visto que, é na localidade que somos forjados, onde não ficamos escondidos atrás de eventos e chamados mirabolantes. Na localidade somos confrontados em nosso caráter, motivações, temores, e também, é lá que se encontra a possibilidade de nossa cura e aprovação diante de Deus.Caso você sinta um chamado missionário então é hora de aprofundar sua vida no conhecimento do Senhor, na sua palavra, nos seus estatutos. Você terá que aprender o que é servir, e servir sem esperar nada em troca. Procure seus líderes e disponha sua vida na localidade. Não tema a restrição dos homens, pois quem intentará contra a vontade soberana de Deus? E por favor, não use desse chamado para auto-promoção. Missões não é marketing, mas um desafio árduo. Isso mesmo. Não trate o assunto no romantismo apenas, mas trate com realismo, visto que esse chamado consumirá toda sua existência.Meu desejo é que a obra missionária, feita a partir do Brasil, seja sólida e abrangente e que realmente o fruto desse trabalho seja para a edificação de pessoas para a vida e para a glória Dele, somente Dele.
No Senhor, que doou sua vida por Sua missão;

Gerson Freire
www.gersonfreire.com